putin on tv DANIL SEMYONOV/AFP/Getty Images

O problema de Putin com a imprensa semilivre

MOSCOVO – Durante a sua amplamente difundida conferência de imprensa anual, ocorrida no mês passado, o presidente russo Vladimir Putin mostrou-se confiante e condescendente, e apenas se animou ao criticar a Ucrânia por escaramuças no Mar Negro e ao protestar contra as queixas “injustas” do Ocidente sobre o comportamento da Rússia. Afirmando que o abandono, pela América, do Tratado sobre Forças Nucleares de Médio Alcance de 1987 exige que a Rússia desenvolva novas armas, ainda gracejou dizendo, “e que não venham mais tarde lamentar-se que estaremos a tentar apropriar-nos de determinadas vantagens”.

O personagem de Putin era um cruzamento entre o embaixador soviético de “Dr. Estranho Amor”, que prometia colmatar as “lacunas de Juízo Final” para com o Ocidente, e o Ded Moroz (Pai Inverno), que resolve miraculosamente os problemas das pessoas. Este é um repertório simplificado para Putin, que passou os últimos 18 anos a personificar tudo, desde o pai extremoso da nação até um judoca James Bond. De forma mais significativa, nunca foi menos credível.

Putin construiu a sua autoridade através do contacto directo com a sociedade russa. Nos primeiros tempos da sua presidência, percorria todos os 11 fusos horários da Rússia prometendo – e muitas vezes cumprindo - crescimento real dos rendimentos, melhores infra-estruturas, e renovação nacional. Com efeito, a recente conferência de imprensa – a 14ª do seu tipo – pareceu-se muito com outro dos frequentemente repetidos desempenhos públicos de Putin: a “Linha Directa”, uma transmissão ao vivo em que responde a perguntas (previamente preparadas) de cidadãos russos.

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