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O Efeito Trump sobre a liberdade de imprensa global

LONDRES – Estava aprisionada no Afeganistão há cerca de duas semanas quando o governo do meu país natal, o Canadá, contactou aqueles que negociavam a minha libertação. Disseram aos negociadores para me deixarem telefonar no dia seguinte, altura em que o exército dos Estados Unidos enviaria um drone até o sítio onde pensavam eu estar detida, para identificar o meu paradeiro.

Os negociadores não conseguiram assegurar essa concessão (fui libertada duas semanas mais tarde durante uma troca de prisioneiros). Mas a disponibilidade do governo dos EUA para ajudar a encontrar-me, uma jornalista canadiana raptada durante uma missão no Afeganistão, assemelhava-se de alguma forma a uma rede de segurança para pessoas que cumpriam um dever perigoso. Onze anos depois, essa rede de segurança desapareceu, e os jornalistas nunca estiveram tanto em perigo como agora.

Desde que fui libertada, em Novembro de 2008, foram mortos 626 jornalistas em todo o mundo enquanto exerciam a sua actividade. Hoje, segundo uma contagem do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), continuam desaparecidos 64 jornalistas e 250 estão na prisão. E um relatório recente da instituição de beneficência do Reino Unido, Article 19, assim denominada devido ao artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos que enuncia o direito a procurar e a receber notícias e a exprimir opiniões, conclui que a liberdade de expressão está no ponto mais baixo de há uma década, e que continua a diminuir.

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