LOMÉ/BOSTON – No Relatório sobre o Investimento Mundial das Nações Unidas para 2020, o Secretário-Geral António Guterres salientou que o investimento directo estrangeiro (IDE) este ano “deverá diminuir bastante comparativamente aos níveis de 2019, quando alcançou os 1,5 biliões de dólares”, ultrapassando os mínimos que se verificaram durante a crise financeira global. Esta descida terá um efeito devastador sobre as economias emergentes, muitas das quais já se encontram em crise como consequência da pandemia de COVID-19.
Poucas regiões terão tantas dificuldades como África. Não só o continente é responsável por apenas 3% do PIB global, como também atrai actualmente menos de 3% do IDE global, que tem sido um factor crítico na impulsão de outras regiões para a prosperidade.
Para catalisar o crescimento e eventualmente ajudar a livrar o continente da pobreza extrema de uma vez por todas, os líderes africanos têm de tentar superar as expectativas e atrair centenas de milhares de milhões de dólares em IDE. Deveriam começar por recorrer ao investimento dos 165 milhões de membros da diáspora africana. E podem procurar inspiração na ascensão meteórica da China até se tornar o segundo maior destinatário de IDE do mundo, depois dos Estados Unidos.
Os economistas e os legisladores estão bem conscientes dos benefícios envolvidos para o desenvolvimento económico. Para além de fornecer muito necessárias entradas de capital às economias emergentes, o IDE é normalmente de longo prazo e promove o desenvolvimento de competências locais e a transferência de tecnologia. Quando empresas internacionais como a Apple ou a Tesla decidem construir instalações industriais, redes de distribuição, estabelecimentos de retalho e serviços operacionais na China, por exemplo, fornecem emprego, tecnologia e conhecimento aos chineses, além de oportunidades de abastecimento por empresas mais pequenas a fábricas de grande dimensão.
O caminho da China para atrair montantes significativos de IDE começou há quatro décadas, quando chegou ao poder e implementou reformas no mercado. Muitos poderão assumir que grande parte do IDE recebido pelo país terá desde então vindo de investidores e empresas não-chinesas. Com efeito, segundo Alan Smart da Universidade de Calgary e Jinn-yuh Hsu da Universidade Nacional de Taiwan, Hong Kong foi responsável por metade dos 307,6 mil milhões de dólares em IDE que a China recebeu entre 1979 e 1999, e Taiwan por cerca de 8%. Globalmente, 77% de todas as entradas de IDE na China durante este período vieram da Ásia, enquanto os EUA e os estados-membros da União Europeia foram responsáveis conjuntamente por apenas 16%. Como salientou um comentador, “desde o início da era da reforma económica da China, a diáspora chinesa forneceu a parte de leão do investimento estrangeiro recebido”.
Os investidores iniciais da diáspora trouxeram consigo um conjunto único de vantagens: relações próximas com a população local, uma compreensão dos costumes locais e, talvez a mais importante de todas, um interesse pessoal no desenvolvimento da China. Estas vantagens aumentaram a taxa de êxito dos seus projectos, que por sua vez contribuiu para a atractividade do país perante outros investidores. Rapidamente, o IDE disparou: depois de contribuir significativamente para o rápido crescimento da China durante as últimas quatro décadas, e de assim retirar da pobreza perto de mil milhões de chineses, atingiu os 141 mil milhões de dólares em 2019, com os investidores estrangeiros a continuarem a apostar na crescente procura dos consumidores chineses por bens e serviços.
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Os líderes africanos deveriam procurar imitar o exemplo da China. Os africanos da diáspora enviaram para os seus países de origem 48 mil milhões de dólares em remessas durante o ano de 2019. Embora o total do corrente ano não deva chegar aos 40 mil milhões de dólares, devido à pandemia, os governos, investidores e empreendedores africanos poderão colher os benefícios de longo prazo de terem uma enorme diáspora, se desenvolverem uma estratégia viável que atraia entradas de capital destinadas a projectos de desenvolvimento de longo prazo.
É verdade que África terá dificuldades em igualar os totais de IDE da China. As cadeias de aprovisionamento globais já foram implementadas, a pandemia devastou muitas economias africanas, e África, ao contrário da China, engloba 54 nações soberanas. Mas o continente ainda poderá ter êxito, com o apoio de políticas governamentais que, tal como na China, encorajem os investimentos da diáspora em empresas produtivas.
Quando se trata de aumentar a prosperidade nacional, a investigação demonstra que os inovadores são responsáveis por acender o fósforo, e são os governos quem deve atear o fogo. De forma encorajadora, estão em curso esforços para aumentar o investimento da diáspora em projectos africanos inovadores. Uma dessas iniciativas é a Future Africa Collective (FAC), um plataforma de investimento por crowdfunding exclusiva para membros e fundada em Janeiro de 2020 pelo veterano empreendedor africano Iyinoluwa Aboyeji.
A FAC pretende aproveitar o capital financeiro, humano e social da diáspora africana ligando os investidores aos inovadores de África. Especificamente, a plataforma confere aos africanos da diáspora e a outros investidores a oportunidade de investirem um mínimo de 5000 dólares em algumas das start-ups mais prometedoras do continente. Até agora, a FAC ajudou empresas, onde se incluem a Tambua Health, a Evolve Credit, a Bamboo e a Releaf, a angariar milhões de dólares.
A plataforma de Aboyeji é só um exemplo de como o crowdfunding de um grupo diversificado de investidores está rapidamente a ganhar popularidade em África. Um relatório recente da AfricArena salientou várias start-ups que foram bem-sucedidas na angariação de centenas de milhares de dólares através de plataformas semelhantes. A experiência da China sugere que a chave para o arranque do IDE em África será a utilização destas plataformas para chegar aos africanos da diáspora.
Com a COVID-19 a continuar a fazer sentir os seus efeitos em África, as perspectivas do continente dependem cada vez mais na capacidade dos membros da diáspora reunirem os seus recursos. As oportunidades para inovação abundam, porque um número crescente de africanos não tem acesso a produtos e serviços acessíveis que poderiam melhorar as suas vidas. Com as suas redes, com o know-how local e com um profundo desejo de ver África prosperar, os africanos da diáspora podem criar alicerces sólidos de investimento que permitam à região atrair outras novas fontes de IDE e acelerar o seu crescimento económico.
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Recent demonstrations in Gaza have pushed not only for an end to the war, but also for an end to Hamas's rule, thus echoing Israel's own stated objectives. Yet the Israeli government, consumed by its own internal politics, has barely acknowledged this unprecedentedly positive development.
underscores the unprecedented nature of recent demonstrations in the war-ravaged enclave.
LOMÉ/BOSTON – No Relatório sobre o Investimento Mundial das Nações Unidas para 2020, o Secretário-Geral António Guterres salientou que o investimento directo estrangeiro (IDE) este ano “deverá diminuir bastante comparativamente aos níveis de 2019, quando alcançou os 1,5 biliões de dólares”, ultrapassando os mínimos que se verificaram durante a crise financeira global. Esta descida terá um efeito devastador sobre as economias emergentes, muitas das quais já se encontram em crise como consequência da pandemia de COVID-19.
Poucas regiões terão tantas dificuldades como África. Não só o continente é responsável por apenas 3% do PIB global, como também atrai actualmente menos de 3% do IDE global, que tem sido um factor crítico na impulsão de outras regiões para a prosperidade.
Para catalisar o crescimento e eventualmente ajudar a livrar o continente da pobreza extrema de uma vez por todas, os líderes africanos têm de tentar superar as expectativas e atrair centenas de milhares de milhões de dólares em IDE. Deveriam começar por recorrer ao investimento dos 165 milhões de membros da diáspora africana. E podem procurar inspiração na ascensão meteórica da China até se tornar o segundo maior destinatário de IDE do mundo, depois dos Estados Unidos.
Os economistas e os legisladores estão bem conscientes dos benefícios envolvidos para o desenvolvimento económico. Para além de fornecer muito necessárias entradas de capital às economias emergentes, o IDE é normalmente de longo prazo e promove o desenvolvimento de competências locais e a transferência de tecnologia. Quando empresas internacionais como a Apple ou a Tesla decidem construir instalações industriais, redes de distribuição, estabelecimentos de retalho e serviços operacionais na China, por exemplo, fornecem emprego, tecnologia e conhecimento aos chineses, além de oportunidades de abastecimento por empresas mais pequenas a fábricas de grande dimensão.
O caminho da China para atrair montantes significativos de IDE começou há quatro décadas, quando chegou ao poder e implementou reformas no mercado. Muitos poderão assumir que grande parte do IDE recebido pelo país terá desde então vindo de investidores e empresas não-chinesas. Com efeito, segundo Alan Smart da Universidade de Calgary e Jinn-yuh Hsu da Universidade Nacional de Taiwan, Hong Kong foi responsável por metade dos 307,6 mil milhões de dólares em IDE que a China recebeu entre 1979 e 1999, e Taiwan por cerca de 8%. Globalmente, 77% de todas as entradas de IDE na China durante este período vieram da Ásia, enquanto os EUA e os estados-membros da União Europeia foram responsáveis conjuntamente por apenas 16%. Como salientou um comentador, “desde o início da era da reforma económica da China, a diáspora chinesa forneceu a parte de leão do investimento estrangeiro recebido”.
Os investidores iniciais da diáspora trouxeram consigo um conjunto único de vantagens: relações próximas com a população local, uma compreensão dos costumes locais e, talvez a mais importante de todas, um interesse pessoal no desenvolvimento da China. Estas vantagens aumentaram a taxa de êxito dos seus projectos, que por sua vez contribuiu para a atractividade do país perante outros investidores. Rapidamente, o IDE disparou: depois de contribuir significativamente para o rápido crescimento da China durante as últimas quatro décadas, e de assim retirar da pobreza perto de mil milhões de chineses, atingiu os 141 mil milhões de dólares em 2019, com os investidores estrangeiros a continuarem a apostar na crescente procura dos consumidores chineses por bens e serviços.
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Os líderes africanos deveriam procurar imitar o exemplo da China. Os africanos da diáspora enviaram para os seus países de origem 48 mil milhões de dólares em remessas durante o ano de 2019. Embora o total do corrente ano não deva chegar aos 40 mil milhões de dólares, devido à pandemia, os governos, investidores e empreendedores africanos poderão colher os benefícios de longo prazo de terem uma enorme diáspora, se desenvolverem uma estratégia viável que atraia entradas de capital destinadas a projectos de desenvolvimento de longo prazo.
É verdade que África terá dificuldades em igualar os totais de IDE da China. As cadeias de aprovisionamento globais já foram implementadas, a pandemia devastou muitas economias africanas, e África, ao contrário da China, engloba 54 nações soberanas. Mas o continente ainda poderá ter êxito, com o apoio de políticas governamentais que, tal como na China, encorajem os investimentos da diáspora em empresas produtivas.
Quando se trata de aumentar a prosperidade nacional, a investigação demonstra que os inovadores são responsáveis por acender o fósforo, e são os governos quem deve atear o fogo. De forma encorajadora, estão em curso esforços para aumentar o investimento da diáspora em projectos africanos inovadores. Uma dessas iniciativas é a Future Africa Collective (FAC), um plataforma de investimento por crowdfunding exclusiva para membros e fundada em Janeiro de 2020 pelo veterano empreendedor africano Iyinoluwa Aboyeji.
A FAC pretende aproveitar o capital financeiro, humano e social da diáspora africana ligando os investidores aos inovadores de África. Especificamente, a plataforma confere aos africanos da diáspora e a outros investidores a oportunidade de investirem um mínimo de 5000 dólares em algumas das start-ups mais prometedoras do continente. Até agora, a FAC ajudou empresas, onde se incluem a Tambua Health, a Evolve Credit, a Bamboo e a Releaf, a angariar milhões de dólares.
A plataforma de Aboyeji é só um exemplo de como o crowdfunding de um grupo diversificado de investidores está rapidamente a ganhar popularidade em África. Um relatório recente da AfricArena salientou várias start-ups que foram bem-sucedidas na angariação de centenas de milhares de dólares através de plataformas semelhantes. A experiência da China sugere que a chave para o arranque do IDE em África será a utilização destas plataformas para chegar aos africanos da diáspora.
Com a COVID-19 a continuar a fazer sentir os seus efeitos em África, as perspectivas do continente dependem cada vez mais na capacidade dos membros da diáspora reunirem os seus recursos. As oportunidades para inovação abundam, porque um número crescente de africanos não tem acesso a produtos e serviços acessíveis que poderiam melhorar as suas vidas. Com as suas redes, com o know-how local e com um profundo desejo de ver África prosperar, os africanos da diáspora podem criar alicerces sólidos de investimento que permitam à região atrair outras novas fontes de IDE e acelerar o seu crescimento económico.