OSLO/NGERULMUD – Da Jamaica a Palau, da Noruega à Indonésia, o impacto da crise do COVID-19 é global e os esforços nacionais de recuperação devem ser globalmente focados para aproveitar o compartilhamento das oportunidades. Em nenhum lugar isso fica mais evidente do que no domínio global que nos une – o oceano. Precisamos agora aproveitar o potencial de 70% do planeta para oferecer um "impulso azul" às nossas economias, enquanto construímos um mundo mais resiliente e sustentável.
Representamos países que exaustivamente se voltam para o oceano em busca de serviços e provisões essenciais, desde a aquicultura nos fiordes noruegueses até o turismo e a pesca em Palau. Embora nossos desafios sejam diferentes, estamos ligados pelo fato de que a pandemia colocou grande parte disso em risco. O setor de turismo global enfrenta desafios profundos em 2020 e muitas incertezas nos próximos anos, sendo que qualquer recuperação provavelmente será longa e difícil. Palau, por exemplo, está projetando um declínio de 52% nas chegadas de turistas em 2020 e 92% em 2021, levando a um declínio de 23% no PIB. A segurança alimentar também está em risco. As cadeias de suprimentos foram interrompidas devido ao distanciamento social e medidas de quarentena, sendo os setores de pesca e exploração de frutos do mar particularmente vulneráveis.
Enquanto o mundo faz um balanço dos impactos e rotas para a recuperação, o Painel de Alto Nível para uma Economia Oceânica Sustentável (o Painel do Oceano, que copresidimos) está enfatizando que a natureza azul precisa ser fundamental em nosso raciocínio. O oceano desempenha papel crucial, não apenas em termos de saúde e medicina, segurança alimentar e energética, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e descobertas científicas, mas também – e talvez mais essencial para um futuro pós-pandemia – no fortalecimento da resistência a impactos semelhantes.
Para garantir que o oceano possa cumprir seu papel, o caminho para a recuperação deve incluir a finalização do ciclo de resíduos, acelerando o desenvolvimento de uma economia circular. Consideremos a poluição por plásticos, que marca nossas paisagens, enche nosso oceano e prejudica a saúde das pessoas mais pobres do mundo. Dois bilhões de pessoas não têm acesso a sistemas de gestão de resíduos e a pandemia provavelmente está piorando a situação. Durante o surto de Ebola de 2014-16 na África Ocidental, a taxa de geração de resíduos infecciosos foi estimada em 240 litros por paciente de Ebola por dia.
Além disso, a poluição oceânica vai muito além do plástico e inclui contaminantes ambientais, como pesticidas, metais pesados, substâncias orgânicas e antibióticos. Pesquisas encomendadas pelo Painel do Oceano mostram que devemos combater a raiz do problema de toda a poluição oceânica para garantir a saúde do nosso planeta e o bem-estar humano.
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Tomemos como exemplo o papel do oceano na segurança alimentar. É uma parte essencial da solução, tanto a médio prazo para a disrupção dos sistemas alimentares quanto a longo prazo para o desafio de alimentar dez bilhões de pessoas até 2050. Isso é especialmente verdadeiro para países como Palau, onde as pessoas dependem do oceano durante a maior parte do tempo para a própria alimentação. Durante a epidemia de Ebola, a indústria pesqueira da África Ocidental ajudou a alimentar a população no momento em que as terras agrícolas foram abandonadas durante o surto. Os peixes desempenharam um papel crucial na garantia do suprimento de proteínas para as comunidades costeiras e do interior. Pesquisas encomendadas pelo Painel do Oceano mostram que, com melhor gestão e inovação, o oceano poderia fornecer seis vezes mais comida do que atualmente.
Enquanto isso, algumas das vulnerabilidades nas cadeias de suprimentos locais e internacionais de frutos do mar expostas pela crise já estão sendo abordadas. As cadeias de suprimentos estão se tornando mais curtas e resistentes, graças à maior capacidade de armazenamento a frio, papel crucial na pesca artesanal em pequena escala e uma demanda local maior.
A resiliência deve ser um dos objetivos de todas as nossas políticas econômicas. Afinal, a crise global causada pelo COVID-19 não tornam obsoletos nossos desafios climáticos e oceânicos de longo prazo; pelo contrário, nos torna mais vulneráveis a eles. Também não tira as oportunidades que uma economia oceânica sustentável nos oferece. Por exemplo, os investimentos em recuperação econômica da Noruega em navios verdes, incluindo novas embarcações movidas a fontes de energia de emissão zero, como hidrogênio e baterias, reduzirão a poluição e criarão empregos.
O argumento para o desenvolvimento de uma economia oceânica saudável e sustentável é forte. Investir em importantes ações no oceano, como descarbonização de navios, conservação e restauração de manguezais, produção sustentável de frutos do mar e desenvolvimento de energia renovável, oferece benefícios globais. Isso inclui não apenas benefícios financeiros, como também melhores resultados sanitários para os consumidores, biodiversidade mais rica e empregos mais seguros, entre outros. Um oceano sustentável deve ser visto não apenas como imperativo para a conservação, mas também como prioridade para o futuro de nossas economias, ecossistemas e sociedade.
A extraordinária natureza global da crise do COVID-19 significa que devemos trabalhar juntos para alcançar o futuro sustentável que imaginamos. No decorrer do próximo ano, o Painel do Oceano lançará uma agenda de ações que definirá um plano que combine proteção efetiva, produção sustentável e prosperidade equitativa para melhorar a resiliência a choques econômicos, crises de saúde e consequentes rupturas sociais. Enquanto isso, estamos trabalhando com nossos colegas membros do Painel do Oceano compartilhando desafios e experiências, ideias e conhecimentos e convidando todos a se juntarem a nós.
Adotar agora medidas para responder, reconfigurar e reconstruir por meio de uma recuperação azul, garantirá a saúde e a riqueza dos oceanos, estimulará nossas economias e criará um futuro mais resiliente, sustentável e próspero para todos nós.
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Despite the apparent resilience of Russia's economy, Vladimir Putin’s full-scale war against Ukraine comes at a high economic cost. Not only does it require today’s Russians to live a worse life than they otherwise would have done; it also condemns future generations to the same.
explains the apparent resilience of growth and employment in the face of increasingly tight sanctions.
OSLO/NGERULMUD – Da Jamaica a Palau, da Noruega à Indonésia, o impacto da crise do COVID-19 é global e os esforços nacionais de recuperação devem ser globalmente focados para aproveitar o compartilhamento das oportunidades. Em nenhum lugar isso fica mais evidente do que no domínio global que nos une – o oceano. Precisamos agora aproveitar o potencial de 70% do planeta para oferecer um "impulso azul" às nossas economias, enquanto construímos um mundo mais resiliente e sustentável.
O oceano é fundamental para a vida na terra. Absorve um quarto de todas as emissões de dióxido de carbono e captura mais de 90% do calor adicional gerado por essas emissões. A economia oceânica importa em mais de US$ 2,5 trilhões anualmente. O oceano fornece frutos do mar para mais de três bilhões de pessoas por dia e um meio de subsistência para três bilhões. Transporta cerca de 90% do comércio mundial. É fonte de energia e ingrediente-chave para combater doenças. Para muitos de nós, é o local de trabalho e também o lar.
Representamos países que exaustivamente se voltam para o oceano em busca de serviços e provisões essenciais, desde a aquicultura nos fiordes noruegueses até o turismo e a pesca em Palau. Embora nossos desafios sejam diferentes, estamos ligados pelo fato de que a pandemia colocou grande parte disso em risco. O setor de turismo global enfrenta desafios profundos em 2020 e muitas incertezas nos próximos anos, sendo que qualquer recuperação provavelmente será longa e difícil. Palau, por exemplo, está projetando um declínio de 52% nas chegadas de turistas em 2020 e 92% em 2021, levando a um declínio de 23% no PIB. A segurança alimentar também está em risco. As cadeias de suprimentos foram interrompidas devido ao distanciamento social e medidas de quarentena, sendo os setores de pesca e exploração de frutos do mar particularmente vulneráveis.
Enquanto o mundo faz um balanço dos impactos e rotas para a recuperação, o Painel de Alto Nível para uma Economia Oceânica Sustentável (o Painel do Oceano, que copresidimos) está enfatizando que a natureza azul precisa ser fundamental em nosso raciocínio. O oceano desempenha papel crucial, não apenas em termos de saúde e medicina, segurança alimentar e energética, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e descobertas científicas, mas também – e talvez mais essencial para um futuro pós-pandemia – no fortalecimento da resistência a impactos semelhantes.
Para garantir que o oceano possa cumprir seu papel, o caminho para a recuperação deve incluir a finalização do ciclo de resíduos, acelerando o desenvolvimento de uma economia circular. Consideremos a poluição por plásticos, que marca nossas paisagens, enche nosso oceano e prejudica a saúde das pessoas mais pobres do mundo. Dois bilhões de pessoas não têm acesso a sistemas de gestão de resíduos e a pandemia provavelmente está piorando a situação. Durante o surto de Ebola de 2014-16 na África Ocidental, a taxa de geração de resíduos infecciosos foi estimada em 240 litros por paciente de Ebola por dia.
Além disso, a poluição oceânica vai muito além do plástico e inclui contaminantes ambientais, como pesticidas, metais pesados, substâncias orgânicas e antibióticos. Pesquisas encomendadas pelo Painel do Oceano mostram que devemos combater a raiz do problema de toda a poluição oceânica para garantir a saúde do nosso planeta e o bem-estar humano.
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Tomemos como exemplo o papel do oceano na segurança alimentar. É uma parte essencial da solução, tanto a médio prazo para a disrupção dos sistemas alimentares quanto a longo prazo para o desafio de alimentar dez bilhões de pessoas até 2050. Isso é especialmente verdadeiro para países como Palau, onde as pessoas dependem do oceano durante a maior parte do tempo para a própria alimentação. Durante a epidemia de Ebola, a indústria pesqueira da África Ocidental ajudou a alimentar a população no momento em que as terras agrícolas foram abandonadas durante o surto. Os peixes desempenharam um papel crucial na garantia do suprimento de proteínas para as comunidades costeiras e do interior. Pesquisas encomendadas pelo Painel do Oceano mostram que, com melhor gestão e inovação, o oceano poderia fornecer seis vezes mais comida do que atualmente.
Enquanto isso, algumas das vulnerabilidades nas cadeias de suprimentos locais e internacionais de frutos do mar expostas pela crise já estão sendo abordadas. As cadeias de suprimentos estão se tornando mais curtas e resistentes, graças à maior capacidade de armazenamento a frio, papel crucial na pesca artesanal em pequena escala e uma demanda local maior.
A resiliência deve ser um dos objetivos de todas as nossas políticas econômicas. Afinal, a crise global causada pelo COVID-19 não tornam obsoletos nossos desafios climáticos e oceânicos de longo prazo; pelo contrário, nos torna mais vulneráveis a eles. Também não tira as oportunidades que uma economia oceânica sustentável nos oferece. Por exemplo, os investimentos em recuperação econômica da Noruega em navios verdes, incluindo novas embarcações movidas a fontes de energia de emissão zero, como hidrogênio e baterias, reduzirão a poluição e criarão empregos.
O argumento para o desenvolvimento de uma economia oceânica saudável e sustentável é forte. Investir em importantes ações no oceano, como descarbonização de navios, conservação e restauração de manguezais, produção sustentável de frutos do mar e desenvolvimento de energia renovável, oferece benefícios globais. Isso inclui não apenas benefícios financeiros, como também melhores resultados sanitários para os consumidores, biodiversidade mais rica e empregos mais seguros, entre outros. Um oceano sustentável deve ser visto não apenas como imperativo para a conservação, mas também como prioridade para o futuro de nossas economias, ecossistemas e sociedade.
A extraordinária natureza global da crise do COVID-19 significa que devemos trabalhar juntos para alcançar o futuro sustentável que imaginamos. No decorrer do próximo ano, o Painel do Oceano lançará uma agenda de ações que definirá um plano que combine proteção efetiva, produção sustentável e prosperidade equitativa para melhorar a resiliência a choques econômicos, crises de saúde e consequentes rupturas sociais. Enquanto isso, estamos trabalhando com nossos colegas membros do Painel do Oceano compartilhando desafios e experiências, ideias e conhecimentos e convidando todos a se juntarem a nós.
Adotar agora medidas para responder, reconfigurar e reconstruir por meio de uma recuperação azul, garantirá a saúde e a riqueza dos oceanos, estimulará nossas economias e criará um futuro mais resiliente, sustentável e próspero para todos nós.
Traduzido por Anna Maria Dalle Luche, Brazil