BONA – O mundo encontra-se num momento decisivo na luta contra as alterações climáticas. Ou aceleramos drasticamente a transição para a energia limpa, ou as nossas hipóteses de evitar que as temperaturas globais ultrapassem 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais serão aniquiladas. Os países da América Latina e das Caraíbas (ALC) são dos poucos que melhor entendem o que está em jogo.
Estes países constituem uma das regiões do mundo mais vulneráveis ao clima. Só no ano passado, a região da ALC sofreu uma época de furações destrutiva, uma onda de calor mortal e uma seca severa, que provocou uma crise hídrica aguda no Uruguai e prejudicou a produção de energia hidroelétrica em países como o Equador. A agência de notação de crédito Moody's estima que as alterações climáticas poderão custar o equivalente a 16% do PIB da região ao longo deste século.
Mas os países da ALC também têm um grande potencial para liderar – e até mesmo impulsionar – a transição global para as energias renováveis. Tal como a Agência Internacional de Energia (AIE) salienta no seu primeiro relatório Latin America Energy Outlook, as energias renováveis, lideradas pela energia hidroelétrica, já representam 60% da eletricidade da região – o dobro da média mundial – e alguns dos recursos eólicos e solares mais robustos do mundo implicam uma margem de crescimento. A América Latina também possui enormes reservas de minerais essenciais que são vitais para a transição para a energia limpa, incluindo mais de metade do lítio a nível mundial. E está posicionada para se tornar líder na produção e utilização de hidrogénio verde.
A transição para uma trajetória segura em termos climáticos exigirá uma ação radical, decisiva e imediata, sustentada por uma colaboração mundial, uma liderança política forte, parcerias público-privadas eficazes e quadros regulamentares bem concebidos. Também será necessário dinheiro: de acordo com a AIE, a região tem de duplicar o investimento em energias renováveis até 2030.
Esse investimento permitiria o acesso à energia a cerca de 17 milhões de pessoas que vivem atualmente sem eletricidade; evitaria 30 mil mortes prematuras através do uso de combustíveis não poluentes para cozinhar; e criaria um milhão de postos de trabalho em indústrias de energia limpa. Mas, como qualquer transformação socioeconómica, a transição para a energia limpa corre o risco de deixar alguns grupos para trás, sendo as mulheres, as comunidades rurais e os povos indígenas os mais ameaçados. Para evitar este resultado, as iniciativas climáticas – e os objetivos que as sustentam – têm de refletir princípios de justiça e inclusão.
A transição energética depende da infraestrutura. A atual infraestrutura energética da América Latina foi construída em grande parte para apoiar a produção e o consumo de petróleo e gás. Para facilitar o desenvolvimento, o armazenamento, a distribuição e a transmissão de energias renováveis, a região tem agora de criar redes mais interligadas e expandir a infraestrutura de apoio em terra e no mar. Uma maior conetividade transfronteiriça e sistemas de armazenamento escaláveis são essenciais para garantir que os sistemas baseados em energias renováveis em toda a América Latina possam resistir ao agravamento dos efeitos das alterações climáticas.
A Costa Rica apresenta um modelo de como isso pode ser feito. O país está a passar por uma profunda transformação em todas as facetas da sua economia, num esforço para se tornar o primeiro país neutro em termos de carbono, a nível mundial, até 2050. Em 2020, o Banco Interamericano de Desenvolvimento formulou mais de três mil potenciais futuros para a Costa Rica e descobriu que o país cumpriria, ou quase cumpriria, as suas ambições de emissões líquidas nulas em mais de 75% desses futuros – em quase metade, previu que o país iria ainda mais longe, atingindo emissões líquidas negativas.
Outros países da ALC estão igualmente bem posicionados para reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis, descarbonizar as suas economias e melhorar a sua segurança energética. Para o efeito, deveriam desenvolver as suas capacidades em termos de energias renováveis e trabalhar para aumentar a eficiência energética. A Aliança Financeira de Glasgow para as Zero Emissões Líquidas está a dar uma ajuda neste sentido, trabalhando com instituições financeiras locais para reforçar o financiamento climático na região – um exemplo de como as parcerias público-privadas podem ajudar a fornecer sustentabilidade e prosperidade a todos.
É claro que as estratégias serão diferentes consoante os países. Nas Caraíbas, o clima, a geografia e a topografia complicam a produção e a transferência de energias renováveis. A produção distribuída – que significa que a eletricidade é produzida perto do ponto de utilização – é uma forma de ultrapassar estes desafios.
A Aliança Global de Energia para as Pessoas e o Planeta (GEAPP, sigla em inglês) já começou a implementar essa tecnologia na região. No Haiti, por exemplo, a GEAPP está a apoiar a criação de redes em malha – redes modulares descentralizadas que permitem que as famílias produzam a maior parte da energia que consomem com painéis solares, mas que também estejam ligadas aos seus vizinhos em grupos de partilha de energia. Ao combinar a simplicidade, a acessibilidade e a relação custo-eficácia dos sistemas solares domésticos com a resiliência de uma rede, as redes em malha podem proporcionar um acesso economicamente viável à energia em áreas remotas.
Os sistemas de armazenamento de energia com baterias (SAEB) – baterias recarregáveis que podem armazenar energia de diferentes fontes – são outra solução tecnológica importante. Ao ajudar a estabilizar a rede elétrica e a garantir um fornecimento de energia fiável durante a transição energética, os SAEB podem ajudar os países a atingir os seus objetivos em matéria de energias renováveis, ao mesmo tempo que impulsionam as suas economias e tiram as pessoas da pobreza geracional. O mercado global de SAEB já está a caminho de duplicar a sua dimensão até 2030. O Consórcio SAEB da GEAPP está a trabalhar para garantir que os benefícios desta tecnologia se fazem sentir em todos os níveis de rendimento.
O caminho para um futuro sustentável será longo, envolvendo investimento e inovação contínuos. Novas soluções de armazenamento de energia, juntamente com uma melhor conetividade regional, formarão a espinha dorsal de uma infraestrutura energética robusta, resiliente e moderna. Entretanto, tal como os países da ALC reconhecem, os projetos terão de ser projetados e implementados tendo em mente a justiça social e a inclusão das comunidades indígenas.
A região da ALC está comprometida tanto com a mitigação das alterações climáticas como com a garantia da justiça climática. Com parcerias público-privadas eficazes e investimentos concertados que apoiem uma cadeia de abastecimento forte, a região pode alcançar a revolução energética de que a sua população – e o mundo – necessitam.
BONA – O mundo encontra-se num momento decisivo na luta contra as alterações climáticas. Ou aceleramos drasticamente a transição para a energia limpa, ou as nossas hipóteses de evitar que as temperaturas globais ultrapassem 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais serão aniquiladas. Os países da América Latina e das Caraíbas (ALC) são dos poucos que melhor entendem o que está em jogo.
Estes países constituem uma das regiões do mundo mais vulneráveis ao clima. Só no ano passado, a região da ALC sofreu uma época de furações destrutiva, uma onda de calor mortal e uma seca severa, que provocou uma crise hídrica aguda no Uruguai e prejudicou a produção de energia hidroelétrica em países como o Equador. A agência de notação de crédito Moody's estima que as alterações climáticas poderão custar o equivalente a 16% do PIB da região ao longo deste século.
Mas os países da ALC também têm um grande potencial para liderar – e até mesmo impulsionar – a transição global para as energias renováveis. Tal como a Agência Internacional de Energia (AIE) salienta no seu primeiro relatório Latin America Energy Outlook, as energias renováveis, lideradas pela energia hidroelétrica, já representam 60% da eletricidade da região – o dobro da média mundial – e alguns dos recursos eólicos e solares mais robustos do mundo implicam uma margem de crescimento. A América Latina também possui enormes reservas de minerais essenciais que são vitais para a transição para a energia limpa, incluindo mais de metade do lítio a nível mundial. E está posicionada para se tornar líder na produção e utilização de hidrogénio verde.
A transição para uma trajetória segura em termos climáticos exigirá uma ação radical, decisiva e imediata, sustentada por uma colaboração mundial, uma liderança política forte, parcerias público-privadas eficazes e quadros regulamentares bem concebidos. Também será necessário dinheiro: de acordo com a AIE, a região tem de duplicar o investimento em energias renováveis até 2030.
Esse investimento permitiria o acesso à energia a cerca de 17 milhões de pessoas que vivem atualmente sem eletricidade; evitaria 30 mil mortes prematuras através do uso de combustíveis não poluentes para cozinhar; e criaria um milhão de postos de trabalho em indústrias de energia limpa. Mas, como qualquer transformação socioeconómica, a transição para a energia limpa corre o risco de deixar alguns grupos para trás, sendo as mulheres, as comunidades rurais e os povos indígenas os mais ameaçados. Para evitar este resultado, as iniciativas climáticas – e os objetivos que as sustentam – têm de refletir princípios de justiça e inclusão.
A transição energética depende da infraestrutura. A atual infraestrutura energética da América Latina foi construída em grande parte para apoiar a produção e o consumo de petróleo e gás. Para facilitar o desenvolvimento, o armazenamento, a distribuição e a transmissão de energias renováveis, a região tem agora de criar redes mais interligadas e expandir a infraestrutura de apoio em terra e no mar. Uma maior conetividade transfronteiriça e sistemas de armazenamento escaláveis são essenciais para garantir que os sistemas baseados em energias renováveis em toda a América Latina possam resistir ao agravamento dos efeitos das alterações climáticas.
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A Costa Rica apresenta um modelo de como isso pode ser feito. O país está a passar por uma profunda transformação em todas as facetas da sua economia, num esforço para se tornar o primeiro país neutro em termos de carbono, a nível mundial, até 2050. Em 2020, o Banco Interamericano de Desenvolvimento formulou mais de três mil potenciais futuros para a Costa Rica e descobriu que o país cumpriria, ou quase cumpriria, as suas ambições de emissões líquidas nulas em mais de 75% desses futuros – em quase metade, previu que o país iria ainda mais longe, atingindo emissões líquidas negativas.
Outros países da ALC estão igualmente bem posicionados para reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis, descarbonizar as suas economias e melhorar a sua segurança energética. Para o efeito, deveriam desenvolver as suas capacidades em termos de energias renováveis e trabalhar para aumentar a eficiência energética. A Aliança Financeira de Glasgow para as Zero Emissões Líquidas está a dar uma ajuda neste sentido, trabalhando com instituições financeiras locais para reforçar o financiamento climático na região – um exemplo de como as parcerias público-privadas podem ajudar a fornecer sustentabilidade e prosperidade a todos.
É claro que as estratégias serão diferentes consoante os países. Nas Caraíbas, o clima, a geografia e a topografia complicam a produção e a transferência de energias renováveis. A produção distribuída – que significa que a eletricidade é produzida perto do ponto de utilização – é uma forma de ultrapassar estes desafios.
A Aliança Global de Energia para as Pessoas e o Planeta (GEAPP, sigla em inglês) já começou a implementar essa tecnologia na região. No Haiti, por exemplo, a GEAPP está a apoiar a criação de redes em malha – redes modulares descentralizadas que permitem que as famílias produzam a maior parte da energia que consomem com painéis solares, mas que também estejam ligadas aos seus vizinhos em grupos de partilha de energia. Ao combinar a simplicidade, a acessibilidade e a relação custo-eficácia dos sistemas solares domésticos com a resiliência de uma rede, as redes em malha podem proporcionar um acesso economicamente viável à energia em áreas remotas.
Os sistemas de armazenamento de energia com baterias (SAEB) – baterias recarregáveis que podem armazenar energia de diferentes fontes – são outra solução tecnológica importante. Ao ajudar a estabilizar a rede elétrica e a garantir um fornecimento de energia fiável durante a transição energética, os SAEB podem ajudar os países a atingir os seus objetivos em matéria de energias renováveis, ao mesmo tempo que impulsionam as suas economias e tiram as pessoas da pobreza geracional. O mercado global de SAEB já está a caminho de duplicar a sua dimensão até 2030. O Consórcio SAEB da GEAPP está a trabalhar para garantir que os benefícios desta tecnologia se fazem sentir em todos os níveis de rendimento.
O caminho para um futuro sustentável será longo, envolvendo investimento e inovação contínuos. Novas soluções de armazenamento de energia, juntamente com uma melhor conetividade regional, formarão a espinha dorsal de uma infraestrutura energética robusta, resiliente e moderna. Entretanto, tal como os países da ALC reconhecem, os projetos terão de ser projetados e implementados tendo em mente a justiça social e a inclusão das comunidades indígenas.
A região da ALC está comprometida tanto com a mitigação das alterações climáticas como com a garantia da justiça climática. Com parcerias público-privadas eficazes e investimentos concertados que apoiem uma cadeia de abastecimento forte, a região pode alcançar a revolução energética de que a sua população – e o mundo – necessitam.