furman10_DANIEL LEALAFP via Getty Images_UKeconomy Daniel Leal/AFP via Getty Images

O alerta da Trussonomia

CAMBRIDGE – Após uma reação brutal e imediata dos mercados financeiros, a primeira-ministra britânica, Liz Truss felizmente abandonou a proposta de seu governo de diminuir as taxas pagas pelos mais ricos do país. Ainda assim, a experiência de seu insensato “mini-orçamento” devia servir de alerta para legisladores do mundo todo à medida que buscam iniciativas para ajudar lares abatidos pela alta nos preços da energia e pela inflação de modo geral.

Embora o drama do mercado financeiro do Reino Unido tenha atraído mais atenção, não foi sequer o problema primário da estratégia de Truss. A questão mais fundamental hoje em dia é que qualquer política econômica que pretenda ajudar um grupo – seja cortes de impostos para os ricos, impostos menores sobre vendas (na Flórida), cortes de impostos fixos (Califórnia), alívio da dívida de financiamentos estudantis ou subsídios de energia – deve, no fim das contas, vir às custas de outros grupos.

Esta lógica econômica é simples e impiedosa. Sempre que um país corta impostos e aumenta benefícios para um grupo, está permitindo que integrantes daquele grupo aumentem seu consumo. Se a produção total consegue crescer para atender esse consumo adicional, fica tudo certo: a economia vai produzir mais, o grupo privilegiado vai consumir mais e todo o resto não será prejudicado. O problema hoje é que a produção não vai simplesmente crescer como consequência de alguns grupos recebendo transferências. Nas economias mais desenvolvidas, a taxa de desemprego é a mais baixa já registrada em décadas, a capacidade está sendo plenamente utilizada e os bancos centrais vêm fazendo o máximo que podem para diminuir a demanda. Se um grupo estiver motivado a gastar mais, os outros vão ter de gastar menos.

https://prosyn.org/iCHmHcHpt