CARTUM – Investir no Sudão pode parecer uma ideia estranha, visto que o país tem sido há muito arruinado pela guerra civil e pelos conflitos intercomunais, paralisado por sanções e, até recentemente, governado por um presidente que enfrenta um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI). No entanto, o governo francês convidou líderes políticos do Sudão, bem como outros líderes mundiais, para uma conferência de investimentos em Paris, no dia 17 de maio, e há boas razões para acreditar que é a atitude certa.
Muita coisa mudou no Sudão desde abril de 2019, quando uma revolta popular derrubou o presidente Omar al-Bashir. O país foi retirado da lista de “Patrocinadores do Terrorismo” do Departamento de Estado dos EUA e começou a cooperar com o TPI. Com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional a reconhecerem o progresso do Sudão nas reformas económicas, o país está próximo de se qualificar para o alívio da dívida.
Atualmente, o Sudão é governado por uma administração de transição sob um acordo de divisão de poder entre os militares e uma ampla coligação civil de representantes do partido e da sociedade civil. Embora o acordo dificilmente seja um casamento por amor, ele oferece um modelo de pragmatismo numa região que precisa muito dele.
O acordo de partilha de poder tem como objetivo orientar o Sudão por um período de transição de 39 meses que terminará no final de 2022, após o lançamento de um processo de redação constitucional e eleições parlamentares, presidenciais e regionais. Contra todas as probabilidades e previsões, a experiência do país em matéria de coabitação civil-militar sobreviveu durante mais de um ano e meio, em grande parte devido aos compromissos pessoais do primeiro-ministro Abdalla Hamdok e do presidente do Conselho de Soberania, general Abdel Fattah al-Burhan.
Emergir de 30 anos de ditadura e 65 anos de guerra civil quase contínua seria um desafio para qualquer novo governo. No caso do Sudão, o passo mais importante que foi dado até agora em direção à paz foi o Acordo de Paz de Juba, de outubro de 2020, entre o governo e um amplo grupo de movimentos rebeldes de Darfur e além. Estes grupos estão agora representados tanto no Conselho de Soberania – que atua como um chefe de estado coletivo – como no gabinete. E as negociações com a parte mais relevante que não assinou o acordo, a facção Abdel Aziz al-Hilu do Movimento de Libertação do Povo do Sudão-Norte, estão programadas para começar no dia 25 de maio.
Além disso, as autoridades de transição têm feito progressos no sentido de se reintegrarem na comunidade internacional através da adoção de acordos e tratados como a Convenção sobre Trabalho Forçado ou Obrigatório. Elas também estão a trabalhar diligentemente para projetarem um sistema federal que acomodará as necessidades políticas específicas do país (com planos para uma grande conferência sobre o assunto este mês). Outros pontos importantes da agenda, como a formação de um Conselho Legislativo de Transição, foram deixados para trás, mas espera-se que sejam retomados em breve.
At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.
Subscribe to Digital or Digital Plus now to secure your discount.
Subscribe Now
É verdade que os obstáculos para uma paz duradoura permanecem. O estado sudanês e as suas instituições de segurança são gravemente insuficientes, mal equipados e sobrecarregados com a tarefa de lidarem com conflitos intercomunitários não resolvidos e milícias criminosas. E os desafios económicos são ainda mais assustadores.
Mas isto é expectável num país que passou por uma revolução e depois por uma pandemia. As condições económicas nos primeiros dois anos após a revolução incluíram uma inflação anual acima de 300%. Nestas circunstâncias, a situação financeira do Sudão deteriorou-se consideravelmente, a ponto de os membros das famílias gastarem muitas horas de espera nas filas para o pão e para o combustível.
No entanto, o governo prosseguiu com reformas económicas importantes, nomeadamente a suspensão dos subsídios para os combustíveis e a flutuação da moeda. Está a trabalhar em estreita colaboração com o FMI para cumprir as condições para o alívio da dívida. Com o apoio do Banco Mundial e do Programa Mundial Alimentar, o governo lançou um programa de transferência de dinheiro para proteger os segmentos mais vulneráveis da população dos efeitos da reestruturação económica.
Colocar o Sudão no caminho do desenvolvimento sustentável exigirá mais do que ajuda humanitária e para o desenvolvimento. O país precisa desesperadamente de investimento privado e, na conferência em Paris, o governo terá a possibilidade de apresentar os seus projetos ao setor privado. Com as reformas internas em andamento para melhorar o clima de investimento do Sudão, começam a surgir oportunidades reais nos setores das infraestruturas, da conexão regional, da agricultura, das indústrias alimentares e da eletricidade.
Imaginemos um futuro onde o porto do Sudão, na cidade de Porto Sudão, está ligado por estrada e ferrovia a Darfur e, de lá, ao Chade, ao Sudão do Sul e à República Centro-Africana, países sem ligação ao mar. A colheita de manga do Sudão, uma das maiores de África, poderia ser estimulada e exportada diretamente para a Europa.
O investimento a longo prazo no Sudão parece cada vez mais possível, como também altamente lucrativo. Um país africano com enorme potencial está a abrir as suas portas para os negócios. Os investidores espertos deveriam entrar em cena agora.
To have unlimited access to our content including in-depth commentaries, book reviews, exclusive interviews, PS OnPoint and PS The Big Picture, please subscribe
According to the incoming chair of US President Donald Trump’s Council of Economic Advisers, America runs large trade deficits and struggles to compete in manufacturing because foreign demand for US financial assets has made the dollar too strong. It’s an argument that manages to be both logically incoherent and historically wrong.
is unpersuaded by the argument made by presidential advisers for unilaterally restructuring global trade.
By launching new trade wars and ordering the creation of a Bitcoin reserve, Donald Trump is assuming that US trade partners will pay any price to maintain access to the American market. But if he is wrong about that, the dominance of the US dollar, and all the advantages it confers, could be lost indefinitely.
doubts the US administration can preserve the greenback’s status while pursuing its trade and crypto policies.
Diane Coyle
suggests ways to account for “free” digital services in economic frameworks, considers how to prevent the emergence of AI monopolies, warns that cutting funding for basic research is tantamount to destroying the US economy’s foundations, and more.
CARTUM – Investir no Sudão pode parecer uma ideia estranha, visto que o país tem sido há muito arruinado pela guerra civil e pelos conflitos intercomunais, paralisado por sanções e, até recentemente, governado por um presidente que enfrenta um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI). No entanto, o governo francês convidou líderes políticos do Sudão, bem como outros líderes mundiais, para uma conferência de investimentos em Paris, no dia 17 de maio, e há boas razões para acreditar que é a atitude certa.
Muita coisa mudou no Sudão desde abril de 2019, quando uma revolta popular derrubou o presidente Omar al-Bashir. O país foi retirado da lista de “Patrocinadores do Terrorismo” do Departamento de Estado dos EUA e começou a cooperar com o TPI. Com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional a reconhecerem o progresso do Sudão nas reformas económicas, o país está próximo de se qualificar para o alívio da dívida.
Atualmente, o Sudão é governado por uma administração de transição sob um acordo de divisão de poder entre os militares e uma ampla coligação civil de representantes do partido e da sociedade civil. Embora o acordo dificilmente seja um casamento por amor, ele oferece um modelo de pragmatismo numa região que precisa muito dele.
O acordo de partilha de poder tem como objetivo orientar o Sudão por um período de transição de 39 meses que terminará no final de 2022, após o lançamento de um processo de redação constitucional e eleições parlamentares, presidenciais e regionais. Contra todas as probabilidades e previsões, a experiência do país em matéria de coabitação civil-militar sobreviveu durante mais de um ano e meio, em grande parte devido aos compromissos pessoais do primeiro-ministro Abdalla Hamdok e do presidente do Conselho de Soberania, general Abdel Fattah al-Burhan.
Emergir de 30 anos de ditadura e 65 anos de guerra civil quase contínua seria um desafio para qualquer novo governo. No caso do Sudão, o passo mais importante que foi dado até agora em direção à paz foi o Acordo de Paz de Juba, de outubro de 2020, entre o governo e um amplo grupo de movimentos rebeldes de Darfur e além. Estes grupos estão agora representados tanto no Conselho de Soberania – que atua como um chefe de estado coletivo – como no gabinete. E as negociações com a parte mais relevante que não assinou o acordo, a facção Abdel Aziz al-Hilu do Movimento de Libertação do Povo do Sudão-Norte, estão programadas para começar no dia 25 de maio.
Além disso, as autoridades de transição têm feito progressos no sentido de se reintegrarem na comunidade internacional através da adoção de acordos e tratados como a Convenção sobre Trabalho Forçado ou Obrigatório. Elas também estão a trabalhar diligentemente para projetarem um sistema federal que acomodará as necessidades políticas específicas do país (com planos para uma grande conferência sobre o assunto este mês). Outros pontos importantes da agenda, como a formação de um Conselho Legislativo de Transição, foram deixados para trás, mas espera-se que sejam retomados em breve.
Winter Sale: Save 40% on a new PS subscription
At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.
Subscribe to Digital or Digital Plus now to secure your discount.
Subscribe Now
É verdade que os obstáculos para uma paz duradoura permanecem. O estado sudanês e as suas instituições de segurança são gravemente insuficientes, mal equipados e sobrecarregados com a tarefa de lidarem com conflitos intercomunitários não resolvidos e milícias criminosas. E os desafios económicos são ainda mais assustadores.
Mas isto é expectável num país que passou por uma revolução e depois por uma pandemia. As condições económicas nos primeiros dois anos após a revolução incluíram uma inflação anual acima de 300%. Nestas circunstâncias, a situação financeira do Sudão deteriorou-se consideravelmente, a ponto de os membros das famílias gastarem muitas horas de espera nas filas para o pão e para o combustível.
No entanto, o governo prosseguiu com reformas económicas importantes, nomeadamente a suspensão dos subsídios para os combustíveis e a flutuação da moeda. Está a trabalhar em estreita colaboração com o FMI para cumprir as condições para o alívio da dívida. Com o apoio do Banco Mundial e do Programa Mundial Alimentar, o governo lançou um programa de transferência de dinheiro para proteger os segmentos mais vulneráveis da população dos efeitos da reestruturação económica.
Colocar o Sudão no caminho do desenvolvimento sustentável exigirá mais do que ajuda humanitária e para o desenvolvimento. O país precisa desesperadamente de investimento privado e, na conferência em Paris, o governo terá a possibilidade de apresentar os seus projetos ao setor privado. Com as reformas internas em andamento para melhorar o clima de investimento do Sudão, começam a surgir oportunidades reais nos setores das infraestruturas, da conexão regional, da agricultura, das indústrias alimentares e da eletricidade.
Imaginemos um futuro onde o porto do Sudão, na cidade de Porto Sudão, está ligado por estrada e ferrovia a Darfur e, de lá, ao Chade, ao Sudão do Sul e à República Centro-Africana, países sem ligação ao mar. A colheita de manga do Sudão, uma das maiores de África, poderia ser estimulada e exportada diretamente para a Europa.
O investimento a longo prazo no Sudão parece cada vez mais possível, como também altamente lucrativo. Um país africano com enorme potencial está a abrir as suas portas para os negócios. Os investidores espertos deveriam entrar em cena agora.